2-19102017Enquanto os veículos e toda a tecnologia associada a eles progridem e se desenvolvem cada vez mais, e rapidamente, os pneus continuam sendo praticamente os mesmos. Houve evolução, sim. Mas não uma revolução

Começou a circular na Internet, em meados de setembro, o vídeo em que um pneu em desenvolvimento pela fabricante Continental será capaz de se adaptar às condições do piso. Mostrado no Salão do Automóvel de Frankfurt, entre 14 e 24 de setembro, utiliza duas tecnologias batizadas de ContiSense e ContiAdapt. A primeira “sente” as condições de rodagem, e a segunda adapta os pneus para a melhor configuração (http://bit.ly/2xLcsvN).

Munido de sensores, se comunicará com os sistemas eletrônicos do veículo, e a expectativa é que seja capaz de se adaptar às condições do piso, alterando o perfil e, por consequência, a superfície de contato com o piso.

O vídeo obviamente utiliza de efeitos de computação gráfica para simular as situações e mostra pai e filho saindo para um passeio em um veículo com direção totalmente autônoma, algo ainda em desenvolvimento. Sentados no bando traseiro e com um tablet nas mãos, o pai seleciona opções de comportamento do pneu entre os modos eficiente, chuva, conforto ou tração, este último com o símbolo de um cristal de neve.

Ao selecionar o modo eficiente, uma animação mostra o desenho da banda de rodagem e destaca a área de contato com o piso, de uma borda a outra, trafegando neste momento sobre piso pavimentado e seco. O carro segue pela estrada e vê-se, ao fundo, um céu cinzento e nuvens de chuva.

Ao surgirem as primeiras gotas sobre os vidros, o sistema muda automaticamente a configuração para o modo chuva, e novamente a animação mostra a banda de rodagem que diminui, reduzindo a área de contato.

Ao chegarem a seu destino o garoto, ao verificar o piso arenoso, alivia a pressão dos pneus de sua bicicleta.

A técnica utilizada é conhecida de jipeiros e trilheiros: variar a pressão dos pneus, aumentando ou diminuindo a superfície de contato, conforme a condição do piso. Para areia e lama, menor pressão e maior contato. Para piso molhado, mais pressão e menor área.

Esta última pode parecer estranha a algumas pessoas, e é preciso um pouco de noção de física para compreender. A capacidade do pneu de cortar uma lâmina d’água depende da área de contato e do peso exercido pelos pneus sobre o piso.

Em relação à área, é semelhante ao fio de corte de uma faca ou outro instrumento cortante qualquer. Quanto mais fino, melhor o corte. Já o peso, considerando-se que continua a ser o mesmo, ao diminuir a área de contato haverá maior pressão sobre o piso (kg/cm, ou peso/área de contato), facilitando ainda mais romper a lâmina d’água. O efeito contrário é a conhecida aquaplanagem.

O que o vídeo ou os textos de divulgação não mostram é como a pressão será alterada. Em caminhões e ônibus que estejam equipados com os chamados rodocalibradores, já é meio caminho andado, faltando a automação e integração com os sensores do sistema do computador de bordo e um eventual aprimoramento dos recursos que o mesmo dispõe.

Mas em veículos leves, embora a eletrônica seja mais avançada, não temos a disponibilidade de uma fonte de ar comprimido.Em 2012, também em setembro e igualmente por ocasião do mesmo Salão do Automóvel de Frankfurt, foi noticiado que a Goodyear havia desenvolvido um sistema em que o pneu seria capaz de se autocalibrar, o que resolveria a questão. Eleito pela revista Time como uma das melhores invenções daquele ano, passados cinco anos tal pneu ainda não existe disponível comercialmente no mercado
(http://bit.ly/2xPo3dA e http://bit.ly/2x2wXjI).

Chamado de AMT (Air Maintenance Technology), através de um dispositivo colocado no lugar da válvula e acoplado a uma mangueira no interior do pneu, seria capaz de “puxar” o ar do ambiente externo para dentro do pneu.

Não é o primeiro sistema do gênero, nem o pioneiro. Outro fabricante, a CODA, da República Checa, tem patente registrada desde 2009 em vários países, incluindo Estados Unidos, União Europeia, Japão, Coréia do Sul, Índia e China
(http://www.selfinflatingtire.com/).

Como é dito no texto sobre o sistema desenvolvido pela Continental, esta pode ser a maior revolução dos pneus desde a invenção do pneu radial pela Michelin, em meados do século passado.

Enquanto os veículos e toda a tecnologia associada a eles progridem e se desenvolvem cada vez mais, e rapidamente, os pneus continuam sendo praticamente os mesmos. Houve evolução, sim. Mas não uma revolução, como as representadas na ocasião pela invenção dos pneus sem câmara e de construção radial.

Vamos aguardar mais alguns anos para ver se tudo isso se torna realidade e, principalmente, a preços acessíveis, ou se será apenas uma promessa, como o AMT da Goodyear.

Por: Percio Schneider
ção Na Boléia

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